“L’Hermitage, como Jerusalém, é o lugar da morte de quem idealizou um projeto para a construção do Reino. São lugares inspiradores para quem se dispõe a continuar a missão. No seu Testamento Espiritual, o Pe. Champagnat deixa-nos seus ensinamentos: a devoção à Boa Mãe Maria, sua humildade e desapego das coisas materiais deste mundo e o pedido mais gritante: “amai-vos uns aos outros! Oxalá se diga de vocês: Vejam como se amam os Irmãos”. Viver no amor é o espírito que L’Hermitage evoca, comprometendo as pessoas com a comunidade. Na proposta marista, voltar a L’Hermitage é como voltar a Jerusalém: ali o carisma ressucita, para viver em nós.” (Mística da Pastoral Juvenil Marista – artigo 147)
A missão marista é um sopro diário de vida, estar em missão é a busca constante da paz exterior e interior em meio ao caos. A missão Ir. Lourenço tem o propósito de convivência com as famílias, sem gestos concretos, se diferindo de missões anteriores. Sendo assim, traz para o missionário um tempo de reflexão, pois nada construído se vê e é palpável, mas internamente ocorre a grande mudança.
O caminho de uma semana é cheio de luzes e sombras e, quando não se sabe o que fazer, bate o desespero. Fiquei numa casa que tinha o casal e duas crianças, uma de 4 e outra de 6 anos, tornando-se ainda mais difícil pelo fato de não saber lidar com crianças. No primeiro dia passei com minha vizinha e amiga a tarde, visto que a família dela estava indo para a cidade e não tinha como levá-la. Passamos a tarde com as crianças, mas em momento nenhum elas quiseram brincar conosco. Sendo assim, a segunda barreira encontrada, a primeira já era entrar na família. De noite, quando fui me deitar, não sabia o que fazer e batia o desespero. Surgiam perguntas do tipo: “Qual o meu propósito? O que vim fazer aqui? Minha missão será essa mesmo? O que farei se os próximos dias foram assim também?”. Como não tinha respostas, a única coisa que consegui fazer foi chorar, então resolvi rezar. Lembrei-me do episódio de “Perdidos na neve” e rezei o “Lembrai-vos”, para que tivesse minha missão norteada. Terminei minha oração e fiquei conversando com Deus, então dormi. Os outros dias se tornaram mais fáceis, sempre agradecendo no final de cada dia pelo que tinha passado. Numa das reflexões que fiz, no ponto mais alto que tinha perto da minha casa, encontrei-me em L’Hermitage, como há quase um ano atrás. Um vale rural, onde pouco se vê de casas, apenas a natureza. A única casa que via era a casa que estava. Como falado pelo Ir. Alan, das Filipinas, quando nos foi apresentar a casa: “Você pode levar sua L’Hermitage para onde quiser, basta ter sua fé e missão”. Dali pra frente, meu pensamento mudou completamente. Era para estar ali, era para lidar com as crianças, era pra ouvir o que a família que me acolheu tinha para falar.
Como já disse, a missão é constante. Sempre que for chamada, farei o máximo para atendê-la. Independente do lugar que me chamem ao serviço da missão marista, irei atender. “Tornar Jesus Cristo conhecido e amado” é a missão mais importante que recebemos nesta caminhada. Muitos conhecem Jesus, mas poucos vão até ele. Logo, o objetivo do missionário é ir de encontro a essas pessoas que por diversos fatores não o encontram. A vida do missionário é encontrar Deus nas pessoas e nas coisas e mostrar através de gestos, brincadeiras e conversas, o quão maravilhoso é o encontro com Ele e com o outro.
Estar em missão é encontrar-se e se encontrar no outro. “Dizem por aí que a vida deve ser medida em intensidade – nunca em minutos! -, portanto, se quer viver muito,mesmo sem saber quanto tempo ainda viverá, viva intensamente enquanto a sua luz ainda está acesa e o seu coração ainda faz tum-tum. Porque a inapagável iminência do blackout total, infelizmente – e também felizmente, né? -, é uma certeza que você agora tem, criança.” ( “O amanhã é uma hipótese” – Não quero um amor meia-boca, Ricardo Coiro).
Por Giovanna Campos